Talvez por estar próximo do dia das mães, essas reflexões tenham me pegado de jeito.
As considerações sobre a maternidade no meu cotidiano são pasteurizadas, de uma visão da maternidade superficial. Que acabam por anular as milhares de formas de ser mãe que encontramos ao longo da vida, não só na nossa maternidade, como na maternidade de cada uma que nos maternou e que materna conosco. E eu particularmente amo essa multiplicidade de fluxos.
Então cabe enaltecer que ser mãe apresenta um recorte, um recorte de raça, de classe social, de história familiar, um recorte temporal, conjugal e espacial. E isso é muito caro, a cada forma de maternidade que eu vejo ser desenvolvida.
O assunto maternidade me toca, em especial, pois além de ser mulher e de desejar ter filhos, a primeira maternidade que eu conheci (a maternidade de minha mãe, claro) foi um tanto conturbada e permeada de questões densas, intensas. Tais questões foram, ao longo da minha vida, fortemente reprimidas, até pela dificuldade de lidar com a vulnerabilidade que este assunto me trazia. Minha mãe, diferentemente do que pintam, foi bem longe de ser exemplo para mim, em diversos quesitos da vida. Ainda que sua força guerreira tenha sido um grande, grande exemplo e eu nutra profunda admiração neste sentido.
Para mim, ser mãe significou um tanto entrar num grande processo de aceleramento, vários fatores externos estimularam essa correria, desde a gestação, pois não agendamos esse bebê..
Então foi casar, construir casa, ver roupas, parto, uma casa para os primeiros meses, uma obra interminável, um doutoramento em execução vômitos que nunca passavam, crise financeira e política, dispensa de projetos.. Enfim, várias coisas que saíram além, bem além, do que eu esperava para este momento.
Mas, quando eu converso com outras mães, vejo o mesmo processo de aceleração que se expressam de diferentes formas. Quase como uma necessidade automática do "fazer". Como é pressionador trazer um ser para este mundo, um mundo sobretudo de expectativas. Suas expectativas e as expectativas de cada familiar, e de uma sociedade que apresenta essa maternidade pasteurizada, com tão pouco espaço para a individualidade que é a principal característica do mundo moderno.
A mãe é aquela que tem que dar conta de tudo... Pode mandar que ela mata no peito, que é a vida, que todas as mães que ela conhecem fizeram o mesmo. Fizeram o mesmo? Não! Fizeram muito mais, coisas incríveis e piruetas inimagináveis.. E tudo isso com o bebê no peito...
E da-lhe correr "pra ver" se vai "dar conta". E nessa de correr pra cá e pra lá a gente se atropela.. Eu me atropelei todos os sentidos, quando digo todos.. É porque foram todos mesmo. Até desenvolver uma insônia severa que culminou em uma estafa...
Mas se eu falar que dormi pouco... Ah, mas minha mãe dormia cinco horas, mas meu pai dormia quatro, virava noite, sua mãe nem dormia...
É difícil manter sua individualidade nesse mundo das comparações...
Hoje aprendo a me escutar, a lidar bem com meus limites. Mas muitas vezes noto a cara de espanto das pessoas quando percebem que eu tenho limites sim. Glória Deus, temos nossa individualidade, nossos calos, que apertam em sentidos diferentes.
Então hoje quero brindar com um café quente e um silencio profundo, ou a risada de uma amiga ou do meu marido.
Que a nossa doação seja motivada pelo amor, pela alegria de estar, fazer e se permitir "nisso tudo" que é ser você.. Pelos pequenos momentos do cotidiano, que se perde, nesse mundo de competição... Cada fase tem tanta delicia, e olha que eu só cheguei na primeira infância, mas é sempre uma fase de autodescobrimento e vivenciamento de novos sentimentos. De ir a lua e voltar a cada sorriso sincero no rosto de nossos filhos...
Eu não tive a mãe que desejava e não sei se serei a mãe que minha filha desejou. Mas seja como for, será no nosso tempo e do nosso jeito!